segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

20180101

SÍNDROME DE BUKOWSKI 

Seria possível uma cidade sofrer de uma Síndrome?
E uma síndrome própria de um ser humano?
Pois é, Santo Antônio da Platina parece sofrer o que seria uma síndrome de Charles Bukowski.
Quem foi Charles Bukowski? Até hoje há dúvidas se Bukowski era um escritor que bebia muito, ou um alcoólatra que escrevia pouco. O certo é que bebia muito. Tinha outras qualidades nada desejáveis como ser mulherengo, viciado em jogos, desbocado e pouco, mas muito pouco apegado ao trabalho, ou seja, era de fato um grande preguiçoso.
Eventualmente escrevia. Eventualmente fazia poesias.

"Há um pássaro azul em meu peito que quer sair, mas sou duro demais com ele, eu digo, fique aí, não deixarei que ninguém o veja.

Há um pássaro azul em meu peito que quer sair mas eu despejo uísque sobre ele e inalo fumaça de cigarro, e as putas e os atendentes dos bares e das mercearias nunca saberão que ele está lá dentro.
há um pássaro azul em meu peito que quer sair mas sou duro demais com ele, eu digo, fique aí, quer acabar comigo?"


Mas o que tem a ver Santo Antônio da Platina com os desvarios de Bukowski? Nada e tudo ao mesmo tempo. Uma cidade é o que é o seu social. É o que são seus habitantes. É o que é aquilo que mostra a seus visitantes. Uma cidade é aquilo que seus moradores dela fazem ser.

Vamos ver: Santo Antonio da Platina - Cidade Joia do Norte Pioneiro! Isso no passado recente significava que nossa cidade era a mais bonita, a mais bem planejada, a mais limpinha, uma verdadeira joia. Mas era uma joia a ser ainda lapidada. Uma joia que poderia vir a ser muito valorizada com o passar dos tempos. Com o passar dos tempos ocorreu que em vez de ser lapidada foi ela "delapidada" por sucessivas gestões temerárias, ora por absoluta incapacidade de seus gestores, ora por absoluta má fé dos que a dirigiram. Poucas vezes suas contas foram aprovadas sem ressalvas pelo Tribunal de Contas do Estado. 

Primeiro sintoma da Síndrome de Bukowski: "Uma joia bruta que seria lapidada ou joia rara que seria delapidada".

Vamos ver: Santo Antonio da Platina - Cidade Polo Comercial do Norte Pioneiro! Isso no passado recente significava que nossa cidade tinha um comércio bem movimentado se comparado às principais (sic) cidades da Região. Um comércio que empregava um bom número de cidadãos e cidadãs. Um comércio que gerava um saudável lucro a seus proprietários, que lhes proporcionavam um bom padrão de vida e, para os mais previdentes, uma boa oportunidade de investimentos em outras áreas da economia do município.

Hoje se questiona esse título autoproclamado. Pode um Polo Comercial restringir, por decreto, o horário de funcionamento de suas empresas? Pode um Polo Comercial se dar ao luxo de fechar as portas de todas as lojas às 18 horas? Pode um Polo Comercial encerrar as atividades da semana no sábado ao meio-dia? Pode um Polo Comercial deixar de atender aos clientes da Região por ele polarizada, quando o visitante comprador chega às lojas, suas portas estão fechando? Pode um Polo Comercial que não tem nenhum evento capaz de catalizar movimento para seus comerciantes como Feiras de produtos do tipo vestuários, móveis, eletro-eletrônicos, etc.?

Segundo sintoma da Síndrome de Bukowski: "Um Polo Comercial pouco, muito pouco apegado ao Trabalho. Um Polo Comercial preguiçoso".

Santo Antonio da Platina - "Maior Cidade do Norte Pioneiro! Sim. Maior que quem? Ser a maior cidade do Norte Pioneiro não é necessariamente um grande feito. Numa região deprimida, com o terceiro menor IDH do Estado não há muito o que se comemorar, ainda mais se voltarmos ao passado não muito recente onde tivemos várias oportunidades de crescimento e, por causa de nossa incapacidade de inovação e pela absoluta falta de visão de futuro, a cidade foi ultrapassada por dezenas de outras vilas recém fundadas no Estado e que hoje ostentam porte de Cidades Grandes, como Londrina, Maringá, Cascavel, Apucarana, Cambé, Arapongas, Umuarama, Cianorte, Paranavaí, Campo Mourão, Toledo, Pato Branco, Francisco Beltrão, e muitas outras. Embora já centenária, somos apenas a 43ª maior cidade do Estado.

Uma cidade com milhares de terrenos baldios nas mãos de uns poucos "investidores" esperando valorização, e com dezenas de novos loteamentos autorizados, muitos dos quais com lotes sendo vendidos antes mesmos das obras de infraestrutura estar concluídas, gerando, depois, demandas à Prefeitura por serviços que, por lei e por ética, deveriam ser da incorporadora.
Terrenos baldios esses que, sobre os quais, não se aplicam a Lei do IPTU progressivo, mecanismo legal para se obrigar a dar aos imóveis o sua devida função social. Isso ocorre porque os proprietário são os endinheirados, cujo patrimônio cresceu em progressão geométrica, na exploração do comércio e do serviço oferecidos a preços vis aos cidadãos mais pobres, numa cruel, repugnante e gananciosa transferência de rendas.

Terceiro sintoma da Síndrome de Bukowski: "A maior cidade do Norte Pioneiro desbocada (mal educada no sentido de que não conseguimos manter o excelente nível de educação pública que tivemos com os grandes Mestres dos anos 1970 e 1960 e anteriores). Cidadãos mesmo com curso superior que ainda dizem: "Nóis vai só com R$ 10 real".

Como diz Mark Manson, "Apesar das vendas (dos seus livros de poesia) e da fama, Bukowski era um fracassado...Nunca tentou ser o que não era..."

Seria essa a nossa Síndrome? A nossa sina?

MANSON, Mark, 1984 - "A Sutil arte de ligar o f*oda-se" - Tradução Joana Faro 1ª ed. Rio de Janeiro - Intrínseca  - 2017